segunda-feira, dezembro 26, 2011

Vinhos Domingos Alves de Sousa

É fácil simpatizar-se com Domingos Alves de Sousa, homem de simplicidade genuína, mas consciente do valor que tem. É fácil admirar este homem pela seriedade e qualidade dos seus vinhos. Ao seu lado o filho Tiago e à beira o enólogo Anselmo Mendes, que teima em fazer vinhos de excelência.
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Numa noite de Dezembro, Domingos Alves de Sousa apresentou os seus Quinta da Gaivosa, propriedade berço dos seus maiores néctares, e os Quinta de Vale da Raposa, a segunda dos seus domínios. Para não escrever um ror de textos com notas de prova, ajunto-os todos neste, e-vai-dembute.
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Branco da Gaivosa Reserva 2010 com notas olfactivas de abóbora, citrinos, nomeadamente casca de laranja e flor de laranjeira e, ainda assim, finamente leitoso. Na boca, seco, mineral, com boa acidez e bom final.
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Gaivosa Primeiros Anos Tinto 2009 é a entrada dos vinhos da Quinta da Gaivosa, fabricado a partir das vinhas mais jovens. Revelou-se guloso no nariz, embora não se mostrando compotado, aliás com algumas notas verdes e de madeira verde chamuscada. Na boca é muito suave e com final fixe, mas esperava mais.
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Moi même, pouco afoito a monovarietais, aprovei (quem sou eu? Até parece que sou importante e influente) este Vale da Raposa Tinto Cão 2009… No nariz lembra um Porto ruby, mas menos gordo, visto ter tempero de menta, pimenta preta e madeira de pinho aplainada. Na boca é elegante, mas mostrando bem os taninos, com revelação de ardósia e terra.
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Voltando ao moi même… Vale da Raposa Touriga Nacional 2009… já é habitual os produtores apostarem nesta casta: porque é boa e porque tem fama, logo vende. Confesso que já me chateia esta mania da touriga nacional … mas quando um vinho é bom, é bom… e se é muito bom, ou excelente, é muito bom, ou excelente. Ao nariz vem a compota de frutos vermelhos, gomas, violetas, com frescura da menta, madeira húmida e ameixa preta. Na boca é elegantíssimo, com taninos visíveis, excelente acidez e final muito prolongado.
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Regressando ao moi même… Vale da Raposa Sousão 2010, mostrou-se um pouco rústico, sem que isso seja negativo, todavia, embora campesino, soube ser fidalgo, revelando fineza no trato. No nariz, pastelaria natalícia, mas com notas químicas, e um pouco de pimenta branca. Na boca mostrou boa acidez, taninos um bocado rugosos, notas de madeira e belíssimo final.
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Quinta da Gaivosa Tinto 2008 é perfume (do bom), químico, floral, etéreo. Tem lá menta, madeira, terra, pimenta preta, linóleo. Gostei mais dele no nariz do que na boca, que é elegante, com óptima acidez, com festas de chocolate preto e ameixa preta.
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Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo Tinto 2009… teimo em adorar os vinhos desta parcela. O que se há-de fazer? (aqui entra um smiley a piscar o olho aos leitores). É o mais austero de nariz de todos os vinhos aqui relatados e também o mais curioso, diria quase inédito: cais. Isso mesmo, cais, de porto de mar, de muralha e barcos… mistura de água, sal, petróleo e desperdício de pano… Anselmo Mendes disse-me alcatrão, mas não concordo! A boca é doce, gulosa, com madeira tostada, taninos raçudos, muito gastronómico, com final longuíssimo.
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Alves de Sousa Reserva Pessoal Tinto 2003… ufa! Outro grande vinhaço! Numa consulta na sala, este foi o vinho da noite. Tenho de concordar, ou quase. Tem uma qualidade de sufocar, mas o meu coração ficou com o Lordelo (embora com a mesma nota). O produtor quer que os Reserva Especial saiam para o mundo com, pelo menos, sete anos, dos quais cinco anos em garrafa. É de homem! Tanto mais que muita gente anda a botar vinhos «inacabados» cá para fora (julgo que por razões de tesouraria). Olfactivamente mostrou manteiga, anis, flor de laranjeira, vegetal… uma grande pinta! A boca, ui, ui, ui… elegante, pujante, polido… acidez muito feliz, prometendo anos de alegrias.
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Branco da Gaivosa Reserva 2010
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Origem: Douro
Produtor: Alves de Sousa
Nota: 7,5/10
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Gaivosa Primeiros Anos Tinto 2009
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Origem: Douro
Produtor: Alves de Sousa
Nota: 6,5/10
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Vale da Raposa Tinto Cão 2009
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Origem: Douro
Produtor: Alves de Sousa
Nota: 7,5/10
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Vale da Raposa Touriga Nacional 2009
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Origem: Douro
Produtor: Alves de Sousa
Nota: 8/10
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Vale da Raposa Sousão 2010
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Origem: Douro
Produtor: Alves de Sousa
Nota: 7/10
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Quinta da Gaivosa Tinto 2008
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Origem: Douro
Produtor: Alves de Sousa
Nota: 8/10
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Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo Tinto 2009
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Origem: Douro
Produtor: Alves de Sousa
Nota: 9/10
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Alves de Sousa Reserva Pessoal Tinto 2003
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Origem: Douro
Produtor: Alves de Sousa
Nota: 9/10

domingo, dezembro 25, 2011

W. & J. Graham & C.º Vintage Port Wine 1970

Nasci em 1970! E logo para me saudar, a natureza criou as condições para uma prolífica declaração de vintages. Paul Symington, o boss, disse-me ser este duma das melhores safras desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Consensuais são os de 1945 e 1963… depois é a confusão. Disse-me que cada vez mais gosta deste ano, que se tem vindo a revelar de excepção, quando antes se supunha ser «apenas» muito bom. E 1970 foi também o ano em que os Symington compraram a Graham.
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No outro dia antecipei o jantar de Natal. Perdi a cabeça e lancei-me na aventura de fazer pezinhos de coentrada, que pensava ser mais complicado e que só não correu na perfeição, porque os coentros não tinham pinta.
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Natal, festa. Ano novo, festa. Aniversário, festa. Não sei quanto tempo vou por cá andar, festa. Foi abatida ao efectivo esta garrafa. E que boa que era!
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Tive a sorte de a poder partilhar com a MMPT, MCP, ALD, AT e LC. Viva eles! Companhia ainda melhor do que o vinho!
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No nariz, este vinho é mais complexo do que aqui posso deixar como testemunho: quiçá mogno, quiçá pau preto, quiçá as duas madeiras, notas balsâmicas, gomas, licor de ginja muito suave, alcaçuz, anis, canela… na boca, puro veludo e um final enorme.
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Origem: Vinho do Porto
Produtor: Graham (Symington Family Estates)
Nota: 9,5/10

sábado, dezembro 24, 2011

Afonso III – Vinho seco especial

Tem nome do quinto rei de Portugal e acrescenta-se-lhe «vinho seco especial». Dom Afonso III foi quem terminou a conquista do Algarve e a ele se deve a introdução dos castelos no brasão de Portugal… porém, esqueçamos a lenga-lenga dos sete fortes tomados aos mouros e blá blá blá… quem quiser saber disso que leia neste meu outro blogue.
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Dom Afonso III foi assim o primeiro Rei de Portugal e do Algarve (dos Algarves, de aquém e além mar, em África, só mais tarde) e, por isso, tem uma devoção cívica na mais meridional região continental portuguesa (há quem diga que a república só foi proclamada em Portugal, pelo que o Algarve continua a ser uma monarquia). O concelho de Lagoa não é excepção, pelo que lhe dedica este vinho.
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A minha primeira vindima, tinha eu uns dez anos, foi no Algarve, em Lagos (acho), mas este vinho só de soslaio o conhecia. Quem mo relembrou foi o professor Virgílio Loureiro, durante uma entrevista.
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É um vinho diferente, muito seco (muito, muito, muito), nada fácil. Diria que não é para todos (por cá quase ninguém apreciou). Diria que étnico, embora o rótulo não diga, julgo que será de tinta negra mole em esplendor… Algarvio à séria, sem os cabernet, merlot, syrah ou touriga nacional.
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Serve-se como aperitivo e refrescado. Estranha-se primeiro e passada a resistência… ufa! Vinhaço mesmo a meu gosto. No nariz bastante oxidado, quase férreo e com vinagrinho. Na boca parece pôr a soliva no seu grau mínimo.
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Origem: não referida.
Produtor: Adega Cooperativa de Lagoa

Nota: 7/10

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Loridos Rosé 2008

Não se deve contrariar os malucos, nem o doido o pode fazer. Andei o dia com apetite de espumante. Porque estou bem disposto e porque decidi não me chatear com quem não vale a pena ou porque vive temporariamente uma fase de mente toldada.
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Bolas, que é Natal! Toda a gente nas compras, uma chatice… a deles, presos em encontrões, e minha que tive de manjar sozinho. E com apetite de espumante… logo hoje!
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Para que não me chateasse, abri uma lata de tomate inteiro pelado, piquei uma cebola e um dente de alho… tudo para a frigideira que tem a mania que é wok, instrumento que não descortino o significado do nome. Olhei para a coisa e achei que devia levar uma béca de vinho branco. Zás!... e cogumelos… abri uma latinha das emergências, pois ir à rua, está quieto oh preto! Brutinho como sou, atirei ao refugado cinco ovos… e não é que comi tudo?! Ah! E uma pitadinha de nada de flor de sal e um golpe de orégãos dos verdeiros.
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Isto tudo para quê? Para um bendito espumante que aguardava o cadafalso. Loridos Rosé (200´k´k098768765u8765u« –  efeito gráfico da limpeza do teclado, após o derramamento de algum espumante) 2008 . De bolha fina, um pouco mais viva do que o suave, com aroma de líchias e ligeiro tomate verde.
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Origem: não referida
Produtor: Bacalhôa
Nota: 5,5/10

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Porto Calém celebra Benfica campeão europeu

A Cálem apresenta amanhã, terça-feira, no estádio da Luz,uma edição especial Colheita 1961, limitada a 200 garrafas numeradas, evocando os 50 anos da primeira Taça dos Campeões Europeus, por parte do Sport Lisboa e Benfica, anunciou, em comunicado, aquela casa de Vinho do Porto.
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«Foi para nós, Porto Cálem, um enorme privilégio ser os guardiões deste néctar único e, desta forma, associar-nos à comemoração de tão marcante data para instituição Sport Lisboa e Benfica. Acreditamos que através desta edição tão especial estamos também a contribuir para perpetuar este momento assinalável» – refere, no comunicado, António Montenegro, diretor de negócio nacional do grupo Sogevinus.
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sábado, dezembro 17, 2011

Lima Mayer Petit Verdot 2008

Conheci Thomaz Lima Mayer quando trabalhei como consultor de comunicação na Lift, sendo que a conta da sua empresa era gerida por mim. A experiência fora do jornalismo durou um ano, mas tenho mantido contacto com este produtor na Quinta de São Sebastião, situada na entrada de Monforte, quando se vai de Lisboa.
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Penso (julgo que já o escrevi aqui) que os bons vinhos traduzem sempre o carácter e o empenho de quem os produz, seja do enólogo e/ou produtor e/ou viticultor. Pelo que conheço de Thomaz Lima Mayer, é um homem forte e determinado, com personalidade vincada, educado e simpático.
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Se essas características são transportáveis para um vinho, então os vinhos da Lima Mayer & Companhia são prova disso. Se o produtor se prolonga na garrafa, muito se deve à interpretação do enólogo, que no caso é Rui Reguinga.
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Thomaz Lima Mayer talvez tenha sido o primeiro vitivinicultor português a apostar na casta petit verdot. O facto é que acertou. Os vinhos desta uva saem com grande pinta da Quinta de São Sebastião.
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Facto importante é todos os anos serem naturalmente diferentes. O perfil é aquele, mas não há padronização do vinho, tentação de muita gente. É bom ter uma certeza, mas ter também o que descobrir.
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O que gosto nele? Antes de mais: não é uma monotonia dum monovarietal, mal que padecem muitos vinhos, incluindo os de grande qualidade. O que gosto nele? Gosto disso, da complexidade conseguida, quer no nariz quer na boca.
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Complexidade sem que deixe de ser um vinho fácil. É como os livros de grandes escritores, mas que alguém com pouca instrução consegue ler e perceber. Se bem me lembro dos anteriores e não querendo comparar o que tem dificuldade em ser comparado, direi, arriscando, que é o melhor petit verdor da casa Lima Mayer.
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No nariz aprecio as ameixas pretas quase em passa, as bagas de amoras, as notas fumadas. Na boca a sedução da macieza e elegância, o final prolongado… só não vai com mais perigosa velocidade, porque não é vinho de penaltis.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Lima Mayer
Nota: 8/10

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Vértice Millésime 2007

Boa malha! Tragar este espumante é entrar numa fase superior de luta. Um bálsamo contra a austeridade – calma, que não disse que o vinho é acessível a qualquer um, mas quem tiver uma folgazinha… 15,50 euros, indicados pelo produtor.
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O perfil é o mesmo. Fresco, mineral, subtil, sedutor. Uma borbulhagem divertida… piquinho bom… lol.
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Muito gastronómico, mais até do que espumar na meia-noite de fim-de-ano. Beba-o (digo eu) ao jantar e molhe-se com outra coisa ao bater das 12 pancadas. Depois, volte para uma pinga destas.
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Origem: Douro
Produtor: Caves Transmontanas
Nota: 7,5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Vértice Rosé 2010

Este espumante foi o que, no lote de três vinhos enviados, o que menos me entusiasmou. Achei-o pouco complexo e com pouca «novidade». Será do ano? Provavelmente… será culpa minha? É possível.
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No nariz é fresco, com nuances frágeis de morangos verdes e um pouco citrino. Na boca realça-se a acidez e a mineralidade… uma coisinha que não gostei: a doçura. Esperava-o mais austero.
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Origem: Douro
Produtor: Caves Transmontanas
Nota: 5,5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Vértice Cuvée Reserva 2009

Lá estou eu com a touriga franca (35% do lote)… é que gosto!
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As Caves Transmontanas têm, ao longo dos anos, sempre boas propostas. Não me lembro de alguma vez ter bebido um néctar deste produtor que tivesse reparo. Nem nunca ouvi reprimendas a ninguém. O que não significa que seja «o melhor», «o maior», «o único». Há na gama propostas melhores e menos interessantes, mas todas de inegável qualidade.
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Esta cuvée fez-se, além da citada touriga franca com gouveio, viosinho, malvasia fina, rabigato e códega. No nariz revelou-se muito fresco, com notas subtis de fruta branca. Na boca realço a mineralidade.
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Origem: Douro
Produtor: Caves Transmontanas
Nota: 6/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

terça-feira, dezembro 13, 2011

Vila Flor Tinto 2009

O que argumentei no branco vai bem com este tinto. Preferi o branco, mas não posso atribuir outra nota que não a mesma. A diferença está dentro da minha margem de erro e penso ser de justiça equipará-los.
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A fruta madura que revela no nariz não é nem compota nem outra coisa que possa enjoar. Na boca mostra frescura e um final interessante.
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Origem: Douro
Produtor: Quinta da Peça
Nota: 5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

Vila Flor Branco 2010

A simplicidade compensa. Sem artifícios, limpo de máscaras, despretensioso, este branco, nascido na Quinta da Peça, no vale da Vilariça, no Douro Superior, serve à vontade um momento de bom convívio.
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Não tem arcaboiço para ser um vinho da noite ou uma grande estrela, mas ainda assim se faz notado. Senti-o franco.
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No nariz mostra-se muito fresco, com notas cítricas e de maçã verde. Na boca demonstra boa acidez, um final simpático, em tons cítricos e minerais.
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Origem: Douro
Produtor: Quinta da Peça
Nota: 5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.