quinta-feira, outubro 29, 2009

Vinha do Almo Homenagem 2006

Sinceramente, gostei. Se bem que ande um pouco arredio dos vinhos do Novo Mundo, no qual, acho, o Alentejo anda ou quer fazer parte, este tinto caiu-me bem. Não que o seja em absoluto, porque até tem momentos em que se torna mais nacional. Caiu-me bem.
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É um vinho onde se nota a fruta bravia (em vez de silvestre, bravia tem mais cachet, acho), compotas e um toque de canela. Gostei da acidez e os taninos, bem redondos, ajudaram a que apreciasse o resultado.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Herdade dos Perdigões
Nota: 6/10

quarta-feira, outubro 28, 2009

Isto é que foi uma almoçarada

O senhor Santos, simpático proprietário da Garrafeira Campo de Ourique, lembrou-se de juntar uns amigos à volta da mesa, dar-lhes de comer e matar-lhes as sedes com algumas alegrias, com história, da sua garrafeira. Fui um dos beneficiados pela generosidade. Começou por volta das 14 horas e terminou às 18 horas.
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Para fazer buraquinho no estômago, para melhor entrar a comida, veio Champanhe Bauget Jouette Cuvée, que, naturalmente, é um lote de vinhos de diferentes anos. A coisa começou bem.
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Para primeiro prato, o senhor Santos escolheu um carpaccio de polvo com rúcula. Belo! O Champanhe estendeu-se até aqui.
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A seguir apareceu um fígado, vivo, macio e quase vivo, com grelos e figo seco. Uma delícia! Acompanhou-se com um MJC (Colares) branco de 1989. Bem evoluído, com boa boca e, apesar dos seus vinte anos, ainda mantém frescura.
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O prato que me encantou até ao enlevo foi o de cabrito. Muito jovem e tenrinho e molhado à antiga portuguesa, disse-me o anfitrião. A escolta-lo vieram batatas e chalotas a murro, grelo e pasta de figo seco. Neste momento foram servidos os vinhos da tarde, todos tintos.
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A abrir o concerto esteve um Messias Garrafeira de 1978, sem denominação de origem, mas que se deduz ser da região bairradina. Manteve a acidez e os taninos mostraram-se polidos. Nele, chocolate, vegetais cozinhados – infelizmente não consegui identificar –, figo e ginja (obrigado, oh Agosto). Muito elegante e suave.
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Sucedeu no palco um Aliança Garrafeira Particular 1958, também sem indicação de proveniência e que deixou alguma dúvida se da Bairrada ou se do Dão – voto pela primeira, até porque a denominação Dão existia já na época, enquanto a da Bairrada só foi instituída em 1979. Embora outros vinhos de pasto possam ter o igualado ou superado, este foi o que mais me encantou. Muito elegante e em grande forma, o que valeu os primeiros «Ahs!», sem desprimor para os anteriores.
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É então que chegou o Château Gruau Larose de 1982, denominação (AOC) Saint Julien, com o seu couro, fruta cozida, lenha de forno.
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Talvez o mais aplaudido nos de pasto tenha sido o Château Labérgarce Zédé de 1986, indicação Margaux. Nele, bolo, fumo, confitados… e mais que não identifiquei. Mea culpa!
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Para finalizar os comes, encharcada de ovos. Para junto dela vieram, primeiro, um Century Port J. H. Andresen, um tawny (aloirado no rótulo) de 1945. Gordo! Caramelo, amêndoa, noz, figo seco. Depois, a estrela das estrelas: Miles Boal Solera de 1864, com as suas elegâncias: caramelo, algum verniz, pastelaria, madeira mogno e um toque ligeiro de banana madura. Muito elegante e com boa acidez .
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Pensam que foi tudo? Não! A malta pediu e implorou – não quero culpar ou denunciar ninguém, mas houve uns mais do que outros, como é costume nestas coisas – e o senhor Santos concedeu: Armanhaques.
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Dois La Fontaine de Coincy, Bas Armagnac, de 1945 e outro, da mesma procedência, de 1985. O segundo muito afinadinho, como a voz suave dum menino de coro a cantar missa. O primeiro, já adulto, mais interessante e complexo, com notas de madeira, canela, terra, compotas e rebuçado.
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Por todas estas coisas, vai um grande obrigado e abraço para o senhor Santos. A companhia – da Isabel Lucas e dos Agostinho Leite, José Manuel Dentinho, Tiago Teles, Fernando Melo e Luís Miguel Viana – também foi uma cena bué fixe!

sábado, outubro 24, 2009

Jantar de 23 de Outubro

Ao todo éramos seis, mas foram dois que sobressaíram: o picareta-falante A e a pita tagarela I. O Guillaz sempre foi dizendo qualquer coisa e a SB, sempre recatada e calminha, mostrou mais vontade de se fazer ouvir. E o que eles falaram!... tive de os pôr fora de casa ou hoje à tarde ainda estariam aqui na cavaqueira.
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A noite teve quatro momentos altos: o Auster, o vazar duma garrafa sobre a toalha, obra do incansável A, o estilhaçar duma chávena e pires de café, obra do impagável A, e a varridela final, quando os meti lás fora.
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O primeiro vinho da noite foi um Casa Santos Lima Chardonnay 2008 (regional Estremadura), com a untuosidade que caracteriza esta casta, sem ser pesado, e fresco… fruta tropical e erva cortada. Este vinho acompanhou paiola de porco alentejano, os peixinhos da horta e os camarões em alho.
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A entrada prevista era de chamuças… mas a Dona Emília em vez de doze trouxe trinta. Assim, a especialidade, indiana e da senhora, foi servida com honras de prato principal. Às frituras, para contrabalançar, foi servido puré de castanhas.
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Os tintos foram o Casa de Santar Reserva 2005 (Dão), algo austero, mas com boas notas de fruta vermelha, o Duas Quintas 2007 (Douro), vivo nos aromas e com fruta notável, e Auster Reserva 2002 (Douro), em plena forma, com agradáveis aromas terciários, de confitados, um toque suave de cogumelos, uma pitada de especiarias.
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Para finalizar, veio para a mesa um derretível bolo de chocolate, trazido pela SB. Acompanhou-se, e lindamente, com o Auster.
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A conversa decorreu animada, com os decibéis a irem demasiadamente frequente a níveis proibidos pela lei e pela decência das horas. Felizmente, não aconteceu, como noutros tempos, vir um vizinho à porta ou ao telefone queixar-se do ruído.
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Casa Santos Lima Chardonnay 2008
Tipo: Branco
Origem: Regional Estremadura
Produtor: Casa Santos Lima
Nota: 6/10
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Duas Quintas Tinto 2007
Tipo: Tinto
Origem: Douro
Produtor: Ramos Pinto
Nota: 5/10
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Casa de Santar Reserva 2005
Tipo: Tinto
Origem: Dão
Produtor: Sociedade Agrícola de Santar
Nota: 6/10
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Auster Reserva 2002
Tipo: Tinto
Origem: Douro
Produtor: Eborae Vitis e Vinus
Nota: 7/10
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Nota: A imagem designa-se por «A refeição dos camponeses» e é da autoria dos irmãos Nain.

terça-feira, outubro 13, 2009

Lancers Free

Será que o álcool é parte integrante do vinho? Diria que sim. Mas o que se pode chamar a um vinho a que tiraram o álcool? Vinho, certamente. À falta de melhor vocábulo, vinho é a palavra adequada.
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Tirar o álcool ao vinho é legítimo? É com certeza. Mesmo que não se queira chamar-lhe vinho, tudo é legítimo desde que não ponha em causa a saúde pública. E neste domínio convém lembrar que o abuso de álcool é um problema de saúde pública e de segurança pública.
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Pode chamar-se de mera bebida, de produto apenas, mas será isso mau? Os produtores de vinho pertencem a alguma casta de escol, apenas porque o são? Não! Há empresa que merecem confiança e boa reputação. É o caso da José Maria da Fonseca.
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E que o Lancers Free seja apenas um produto, uma mera bebida adocicada, que mal tem isso? Nunca vi tamanhas críticas a produtores e a vinhos como a que muitos «eruditos» têm feito. Porquê? Porque o vinho é sem álcool. E quantos vinhos são meros produtos, sem interesse nem glória?
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O problema não está em ter ou não ter álcool, mas no facto de ser ou não agradável. Podem os mais críticos afirmar que o Lancers Free é mau ou desinteressante. De facto não é interessante nem desafiador, mas não diria mau, pois não é um produto mal feito.
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O agradável depende da boca de cada um. O agradável depende do momento. O agradável pode até depender do objectivo. O final duma tarde de praia, em que se tem de conduzir para casa, não pode ser um momento para beber um vinho sem álcool? Pode com certeza.
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Como vinho não me desperta qualquer interesse. Digo apenas que me pareceu bem feito, coisa que se exige a uma empresa de bebidas, de vinho ou do que quer que seja. É doce, é rebuçado, é refrigerante. Mas, à falta de melhor palavra, é vinho. O marketing da empresa fará o melhor que pode e sabe, o que se compreende e se exige. Comprar é uma opção e experimentar é uma ideia.
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Para rematar, devo dizer que bebo melhor este vinho do que a esmagadora maioria dos vinhos baratos que por aí povoam as cartas de vinhos. Dou-lhe, por isso, uma nota positiva.
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Origem: Vinho de mesa
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 3/10

segunda-feira, outubro 12, 2009

Herdade do Esporão 1º Prémio da Confraria dos Enófilos do Alentejo 2007

A empresa do Esporão convidou alguns bloguistas de vinho para a apresentação do vinho do seu orgulho: o vencedor do Concurso dos Enófilos do Alentejo. O acontecimento deu-se em Reguengos e o convívio foi bem giro... a malta diverte-se. Estiveram presentes os parceiros da adegga, do art meets bacchus, do copo de 3, do lapas, do magna casta, do pingas no copo e do saca a rolha... espero não me ter esquecido de ninguém, se o fiz peço desculpa e espero que me mandem a nota de culpa para eu corrigir a posta.
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Embora a estrela da tarde tenha sido o «mano» de 2000, o campeão de 2007 conseguiu uma belíssima prestação. Ao contrário desse mais antigo, que foi um monovarietal, o vencedor de 2007 é de lote: alicante bouchet, touriga nacional, touriga franca e syrah.
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Está belo, o vinho, mas promete evoluir para melhor. Gostei da evocação de ameixas pretas e do cacau, no nariz. Na boca, achei um pouco excessivo os frutos vermelhos compotados, mas bastante bem, todavia.
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Fizeram-se apenas três mil garrafas deste fora de série, ilustradas com dois rótulos com a arte de Ana Jotta.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Esporão
Nota: 7,5/10
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Nota: Este vinho foi provado no contexto duma visita ao produtor, feita a convite da empresa do Esporão.

Herdade do Esporão 1º Prémio do X Concurso «Os Melhores Vinhos do Alentejo» 2000

Tem-se a ideia de que os vinhos alentejanos não têm grande longevidade. É o problema das generalizações. As médias nunca cobrem as franjas. Este vinho raríssimo, feito exclusivamente com alicante bouchet, já com nove anos, ainda aguenta uns três ou cinco anos.
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O vinho demonstra ainda frescura, com matérias raras ou exóticas, que alguns designarão por balsâmicas, mas que prefiro dizê-las da outra forma. Está bastante elegante e foi «roubado» à garrafeira particular do accionista de referência da empresa, José Roquette.
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Os da casa chamam-lhe «vinho santo», devido à imagem de Nossa Senhora (?), da autoria de Álvaro Pires de Évora, que ostenta no rótulo. É um papel estranho, que nada tem a ver com a tradição do produtor. O pintor renascentista e este vinho mereciam melhor ilustração. Mas fora isso, «tasse bem».
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Esporão
Nota: 8/10
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Nota: Este vinho foi provado no contexto duma visita ao produtor, feita a convite da empresa do Esporão.

Esporão Reserva 2007

Este é um tinto quase guloso, em estilo internacional, coisa que, aliás, caracteriza os produtos deste produtor. Gostei! Abunda a fruta vermelha madura, temperada por notas de pimenta. Gostei da madeira, da acidez e dos taninos.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Esporão
Nota: 6/10
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Nota: Este vinho foi provado no contexto duma visita ao produtor, feita a convite da empresa do Esporão.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Cedro do Noval 2005

Estou com alguma dificuldade em escrever acerca deste vinho, porque a definição não entra bem em nenhuma das minhas gavetas. É claramente uma boa aposta, belo vinho. Porém, não vai completamente com o meu gosto. Mas o que têm os leitores a ver com o meu gosto? Não poderia reservar-me e guardar isso para mim? Podia, mas não era a mesma coisa. Como sempre disse esse factor de satisfação do gosto pessoal é determinante nas apreciações aqui no blogue. Portanto, temos um belo vinho, mas que não satifaz bem o gosto pessoal. Contudo, também não desagrada. Nem está num meio caminho, apenas não encaixa em nenhuma definição.
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Achei-o um pouco pesado, ligeiramente monótono, muito mainstream - ou, se preferirem, de «modinha» -, o que não é, necessariamente um defeito. Não sendo, lembrou-me muito os vinhos típicos do Novo Mundo, muito monovarietal. Mas não é, nem uma coisa nem outra.
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Para mim tem excesso de fruta, gostaria dele mais sóbrio. O chocolate nota-se bem, mas é, de alguma forma, subalternizado. Não é que não goste de vinhos com grande concentração de fruta, apenas achei este excessivo, sem que isso seja, obrigatoriamente, um defeito - continuo eu nas contradições ou com dificuldade de o encaixar nas gavetas.
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Origem: Regional Duriense
Produtor: Quinta do Noval
Nota: 6,5/10