sábado, janeiro 24, 2009

Quinta da Vegia 2006

Há uns anos, não muitos, quando escrevi uma crítica acerca dum vinho de Penalva, não me lembro se neste blogue se no outro que partilhava com o amigo Paulo ou se nos dois, e cairam-me em cima uns tantos patrioteiros do concelho. Ai Jesus! Ai que tinha dito mal do vinho da dita terra e tal era uma grande ofensa, como se a mãe tivesse sido violada por um maometano.
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Esse tal vinho de Penalva, que, já noutras colheitas, me entra frequentemente pelos olhos dentro no comércio daqui do bairro, não valia um caracol. Para mim, o problema não era o berço, mas o produto final, nem era quem o fazia... ou não sabia fazer. Ide procurar... neste ou no outro blogue... ide... ide...
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Pois bem, não que uma coisa tenha a ver com outra ou que esta crítica sirva de desculpa ou de pedido de perdão aos penalvenses - porque eu nunca quis ofender o vinho ou os produtores do citado concelho - apresento um vinho de Penalva que recomendo vivamente.
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Estive hoje na Garrafeira de Campo de Ourique - gruta de sabedoria vínica, antro de boa gente e nascente de simpatia - e deram-me a provar o Quinta da Vegia de 2006: um pedaço de vinho. Bom! Boa posta!
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O Quinta da Vegia 2006 não é uma «mariquice» do «novo mundo», mas antes um vinho com corpo, pujante, com grande carácter e força. Um vinho que pede comida e exige alegria. Um vinhaço do Dão. Um vinho gastronómico, não para aperitivar a apanhar sol em Miami ou para fazer conversa em Beverly Hills. Pede comida. É europeu. É do velho mundo, no bom sentido, tem tradição e alma.
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Deram-mo às escuras, ou quase, não me revelando a origem. Pelos taninos cheguei lá. Eventualmente um Colares, dos que já não se fazem, um Dão em grande estilo, um hipotético Bairrada ou um possível Douro. Colares, como já se percebeu pelo que escrevi, estava excluído, porque teria de ser algo de enorme novidade, numa região que não é grande, num mundo de vinhos que é pequeno e num país que é uma aldeia. Para ser Bairrada tinha excesso de sofisticação - desculpem-me os bairradinos e aficionados; embora aprecie, sempre achei os vinhos da Bairrada, em média e em geral, bastante rústicos. Para ser Douro senti-o demasiado «agreste», pouco enfant terrible politicamente correcto... tipo um Champalimaud do Bloco de Esquerda. Por mim, foi o que disse, ou era Dão ou Douro. Havia ali algo que me afastava do Douro, talvez a elegância em potência. Como Dão teria de o considerar como doutros tempos, pujante, mas delicado, elegante, apesar de duro. Primeiro excluí Bairrada. Depois afastei Colares. Hesitei... hesitei, mas acertei: Dão!
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Que vinhaço! Encorpado, com fortes taninos, aroma algo austero, mas a lembrar frutos pretos. Na boca abriu-se em deleite com alguma compota, fumo e mineral. Está ainda duro... promete festa dentro de dois ou três anos.
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É um vinho que exige comida. Lembrei-me de chanfana, o Bruno falou-me em cozido à portugesa. Está certo.
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Gosto dos vinhos do Dão e deste produtor. Assumo. E não é caro, sendo que o montante é «relativo», tanto para cima como para baixo.
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Origem: Dão
Produtor: Casa do Cello
Nota: 7,5/10

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